O regresso às aulas pode significar muitas experiências e sentimentos distintos, mas o que significa aqui é esta lista com filmes realistas sobre jovens para abraçares esta mudança. Tratam-se de filmes que abordam a mudança e exploram temas importantes e adjacentes a esta época, como a saúde mental, relações tóxicas e ambientes familiares complexos, permitindo um momento de pausa do dia a dia, para nos revermos no ecrã, respirar fundo e percebermos que não estamos sós.
Shithouse (2020)
Cooper Raiff escreveu, realizou e deu vida à personagem principal deste filme que tenta explorar temas inerentes à fase da adolescência, num ambiente de regresso às aulas e transição para a vida adulta de uma forma leve e descontraída. Assim que nos apercebemos, estamos a rever-nos naquela personagem e a reviver os anos de universidade.

A premissa resume-se a duas personagens introvertidas, Alex (Cooper Raiff) e Maggie (Dylan Gelula). À parte das parecenças, ambos lidam com os problemas de formas completamente distintas – ele sente tudo em demasia e ela tenta ocultar a forma como se sente, afogando qualquer sentimento numa distração.
Shithouse conseguiu aproximar-se dos espetadores através de uma narrativa genuína, um aspeto que é capaz de ser o que mais falha neste estilo de filmes, que parecem demasiado estruturados, escritos por alguém que tenta enfatizar sentimentos que não vivenciou. Aqui, tudo soa natural, tudo tem um sentimento familiar e a mensagem é recebida através de ações simples, porque Raiff sabe exatamente o que quer retratar.
O filme mergulha em temas como traumas de infância e como os acontecimentos passados nos moldam. A forma como todos transparecemos algo diferente, mesmo podendo estar a viver os mesmos problemas e ainda a solidão, independentemente de estarmos rodeados de pessoas. Shithouse faz tudo isto (e mais) de uma forma única, crua e intimista com diálogos que se sentem agridoce – reconfortantes pela representatividade, amargos pela realidade.
Lady Bird (2017)
Lady Bird foi o filme de estreia de Greta Gerwig como realizadora a solo e retrata a vida de uma adolescente e o regresso às aulas na transição de secundário para a universidade, abordando um pouco cada nuance dessa fase. Saoirse Ronan (Little Woman) é quem dá vida a Lady Bird, uma jovem desesperada por sair da terra onde cresceu, Sacramento, em busca de um local mais dinâmico e com mais cultura.

O filme centra-se na relação complexa de Lady Bird e da mãe (Laurie Metcalf), sendo um dos tópicos mais tocados a diferença de classes e a forma como Lady Bird tenta esconder as origens dos amigos com mais posses. Ao longo da trama, temos um grande foco em explorar o que as une e as separa, o que alimenta aquele impasse familiar e as tentativas de resolução. É um projeto extremamente humano, que aborda questões que nos são tão intrínsecas e essa vertente é alcançada na perfeição pela sensibilidade de Gerwig.
Assim como a relação de Lady Bird com Marion, este é um filme complexo, recheado de pequenos detalhes que nos faz vive-lo de um modo tão real e empático. Com diálogos fortes, representa de forma bastante realista o que é amar alguém, mas não o conseguir comunicar, o que acaba por afetar muitas famílias, que por falta de um espaço seguro para falarem, acabam por conter todas as emoções.
Waves (2019)
O mais recente filme escrito e dirigido por Trey Edward Shults é Waves, um drama de 2019. É uma história de amor e as distintas formas em como este se apresenta, através das vivências de dois irmãos, Tyler (Kelvin Harrison Jr.) e Emily (Taylor Russel).
Este filme não se foca apenas no regresso às aulas, mas os sentimentos que acompanham esse sentimento estão presentes. Waves desenlaça-se dentro de uma família, onde conhecemos um pai controlador, que procura sempre os melhores resultados nos filhos, não se apercebendo do custo que a sua persistência tem na saúde mental dos mesmos. A narrativa não é a mais coesa, nem segue uma linha lógica, mas a adolescência é mesmo assim – imprevisível, sem um guião para nos indicar a próxima deixa. A vida é caótica, não espera para ser acompanhada, nem compreendida e este filme reflete isso.
A fotografia é um dos fatores que mais acrescenta ao filme, através da luz e cor, da cinematografia e até do aspect ratio, transmitindo o sentimento que acompanha as personagens e a narrativa. Já a escolha da banda sonora é invulgar, e por vezes até distrativa, mas acaba por complementar o filme, por ser uma playlist tão casual e jovem, tornando o filme ainda mais puro e relacionável.
Palo Alto (2013)
À semelhança de Lady Bird, esta longa-metragem foi também a estreia como realizadora a solo de Gia Coppola. Palo Alto é um filme que sobrevive à base da emoção visual e ligação que desenvolve com o espetador, deixando a mensagem e uma narrativa mais complexa de lado. Novamente e à semelhança de Waves, não retrata apenas um cenário de regresso às aulas, mas sim Coppola foca-se no que é real, nas ações mundanas com que nos conseguimos relacionar. Ao contrário do que se poderia esperar, não se segue a narrativa de um modo coeso e estruturado, mas acompanha-se a vida de quatro jovens de um modo sensível e único, tornando a produção num retrato intimista e sincero de uma geração, representando não só a vida daqueles jovens, mas juntando a essência de tantos outros.

Este drama coming-of-age acompanha as vidas de Teddy (Jack Kilmer), April (Emma Robers), Emily (Zoe Levin) e Fred (Nat Wolff). Todos têm histórias, experiências e personalidades distintas, o que ilustra um pouco do que muitos jovens vivem. Enquanto o filme brota, as relações vão-se revelando, acabando por pintar uma obra de arte, onde as linhas pensadas ser ao acaso acabam por se cruzar e unir, criando esta peça bonita que é um filme que ilustra a vida.
Dazed and Confused (1993)
Para terminar esta lista numa nota mais alegre e descontraída chega Dazed and Confused, uma comédia coming-of-age do realizador da trilogia Before. Richard Linklater é conhecido pelo modo incomparável com que escreve pessoas e os seus relacionamentos. É um aspeto que não se pode negar na sua filmografia. Todos os diálogos soam naturais e as relações entre as personagens são tão reais que conseguem transcender o espaço, abraçando e recebendo o espetador entre aqueles grupos de amigos.

Linklater é conhecido por colocar as suas personagens em momentos importantes das suas vidas, como momentos de transição, motivando assim os diálogos existenciais e filosóficos pelo qual é conhecido e Dazed and Confused não é a exceção à regra. O filme gira em torno do último dia de aulas e a noite que se segue. É inspirado nos jovens dos anos 70 e explora uma abordagem não romantizada dos filmes de adolescentes, num caminho pelo regresso às aulas até ao seu fim.
Para quem teve os anos de ensino marcados por fortes amizades e muitas saídas em grupo, este filme não só vai ressoar e despertar algo, como vai conduzir uma viagem nostálgica de regresso a esses anos. O formato do filme não é o habitual, não está a caminhar para um objetivo maior, as personagens não têm grandes batalhas a acontecer, não há nenhum ponto de não retorno, mas há uma vida. É um projeto genuíno, são quase duas horas de ver algo real e sentir que fazemos parte daquele universo. Não sabemos o que vai acontecer, mas as personagens também não, eles vão onde lhes leva a noite e foi assim também que vivemos as melhores noites da universidade.